15 de fevereiro de 2010

Irmã Deisy manda notícias de Uganda


Este final-de-semana eu fui assistir filme na casa de uma amiga, a Ana, e ela me mostrou esse jornal que estavam distribuindo na Igreja que ela participa. Eu achei linda a reportagem e quero compartilhar com vocês.

É uma carta contanto como está o trabalho missionário católico em Uganda, na África.

“Queridas amigas e amigos, minhas irmãs e irmãos,
Gostaria de tomar esta oportunidade destes dias calmos para partilhar um pouco do que vivemos aqui em Aboke este ano, com vocês que estão unidos(as) a nós através da oração e do sacrifício.
No começo de 2009, Deus nos presenteou com um acontecimento grandioso. Acontecimento que nos deu a oportunidade de experimentar a sua fidelidade e bondade, e que nos encheu de esperança e alegria. Este acontecimento foi a volta de Ajok Catherine que tinha sido seqüestrada pelos rebeldes em 1996, quando eles vieram a este colégio e levaram 139 meninas entre 12 e 15 anos para usá-las como crianças soldados e objetos sexuais. Ajok tinha 13 anos quando foi seqüestrada e viveu 13 anos com os rebeldes, a metade de sua vida...
Talvez seja importante que eu conte um pouco desta parte da história de Uganda e de Aboke. Desde 1986 tem um grupo guerrilheiro que se diz contra o governo ugandês, mas suas ações fazem transparecer que estão mais contra o povo do que contra o governo. Onde os rebeldes queimas vilas, violentam, roubam, cortam lábios, nariz, orelhas, mãos, pés, língua... No começo o grupo era liderado por uma mulher – Alice Lakmena – mas logo depois foi substituído por Joseph Kony, que é o líder até hoje. Este grupo de rebeldes é mantido, ou seja, recebe armas e comida do governo do Sul do Suldão, e o governo de Uganda teve muitas oportunidades de terminar com o grupo, mas não o faz pois este também lucra com o grupo no mercado de armas e também – e especialmente – lucra com todas as organizações que ajudam o país por causa do conflito. Ajuda que o povo não muito pois vai para os cofres do governo. Países do primeiro mundo também contribuem para que o conflito continue, principalmente pela venda de armas.
Então no dia 10/10/1996, os rebeldes seqüestraram 139 meninas do nosso colégio. Irmã Rachele, que foi atrás dos rebeldes para trazer as meninas de volta, trouxe 109. Trinta ficaram com os rebeldes e a maioria conseguiu escapar no decorrer dos anos. Destas 30 meninas, 25 voltaram, quatro foram mortas em confrontos com o exercito, e uma não sabemos se está viva ou morta. Então a volta de Ajok é um acontecimento maravilhoso que celebramos, que ainda trás um sorriso aos lábios quando lembramos e que não deve ser esquecido, pois é fonte de esperança que a vida sempre triunfa diante da morte.
Este ano também tivemos mais alunas, construímos mais dormitórios, aumentamos o refeitório, etc... o trabalho aumenta, mas vale a pena. Procuramos manter a qualidade de ensino e dar oportunidade a tantas quantas meninas podemos. Quando as vejo indo à universidade, trabalhando, e fazendo a diferença na sociedade, entendo que a missão herdada de Combini de Salvar a África com a África continua acontecendo.
Tem algo mais que marcou nosso ano. Daqui da janela veja uma das muitas árvores do colégio que caiu por causa de uma tempestade de setembro. Uma outra caiu atrás das classes. Este tipo de tempestade não existe neste país, mas este ano, de setembo a dezembro tivemos três destas. Este ano também foi complicado porque está chovendo durante a estação da seca e não choveu durante a estação das chuvas. Então o povo perdeu as sementes duas vezes: plantaram na estação da chuva e secou tudo; plantaram novamente quando viram que chovia durante a estação da seca, plantaram, mas ai a chuva foi forte demais com ventos violentos e quantidade descontrolada de água. Acho que todos nós entendemos que isso seja...mudança de clima devido ao efeito estufa – poluição. E isto está afetando até a África. O que fazemos não é mais só problema nosso, o que cada um faz tem efeito no mundo inteiro, seja a ação boa ou ruim. E também por isso se queremos pregar o Evangelho de Cristo que veio para que todos tivessem vida e vida em abundancia, temos que nos preocupar também com nossa casa – o planeta terra – faz parte da vida e da mensagem cristã.
Bom, quero terminar. Isto é só um pouco do que observo ao meu redor. Neste ambiente eu cresço e me torno mais e mais uma missionária Comboniana que faz causa comum com o povo de Deus, que doa a vida pelos mais pobres e necessitados e que encontra a felicidade em fazer outros felizes.
Aqui eu aprendo. Sou amada e acima de tudo...amo o povo e estas meninas que Deus me deu como filhas. E esta é a essência da missão! O meu abraço.
Deisy, Irmã Missionário Comboniana em Uganda, África.

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