"(...) peixe fora da água, borboletas no aquário" - essa é uma parte da letra "Dom Quixote" da banda/grupo (nunca sei como Humberto Gessinger denominada os) Engenheiros do Hawaii.
Eu gostava da música mesmo antes de ler o livro. E, agora conhecendo o livro não só de ouvir falar mas com conhecimento de causa, gosto muito mais da canção.
Dom Quixote é uma ótima reflexão sobre espiritualidade. Se você ler a contra-capa lá estará escrito que o protagonista caracteriza a espiritualidade e o Sancho Pança (o melhor escudeiro em toda a história da literatura) representa o lado materialista.
É sobre isso que quero falar.
Hoje a Gi esteve aqui em casa, e embarcamos em uma deliciosa conversa sobre a sua experiência de vinte dias no JV, onde ela trabalhou como QG de crianças e adolescentes.
E é nessa conversa que Dom Quixote entra.
O mundo que o de La Mancha vive é tão real como o nosso mundo, mas o protagonista maquiou este mundo conforme tudo o que ele leu sobre cavalaria andante (um mundo imaginário). E tudo ao redor deixou de ser o que era para ser o que ele queria que fosse.
Existem cristãos que fazem a mesma coisa. Maquiam o mundo ao seu redor do jeito que querem. No seu mundinho perfeito e mal-acabado não existem drogados, não existem prostitutas, homossexuais, alcóolatras... Eles vivem no Éden e as pessoas ao seu redor são exemplos de santidade. Não se misturam com ninguém que não seja do seu seleto grupo. E, se se misturam, tentam imprimir rótulos e fórmulas prontas para tudo e todos. Usam frases feitas e jargões. Não lêem nada que não esteja escrito "Jesus", "Deus" ou "Espirito Santo".
Ah, cristão Dom Quixote, não adianta fingir que bodegas são castelos.
Não adianta você dizer à uma prostituta "Jesus te ama" e esperar que ela dobre os joelhos e peça perdão pelos seus pecados. Conversão não é "abracadabra" então, não bata no peito e diga "eu tentei".
"O mundo anda tão complicado" já disse Renato Russo, "e hoje eu quero fazer tudo por você!" Existe um mundo inteiro esperando receber as boas novas do Evangelho. Existem drogados que precisam saber que há alguém, em carne e osso, que está disposto a ajudá-lo a carregar uma cruz - e que mesmo que ele venha a cair, estará por perto para ajudá-lo a levantar.
Então, cristão Dom Quixote, não se esconda atrás de uma espiritualidade fantasiada achando que tudo são castelos, princesas e moinhos.
"Muito prazer, me chamam de Otário" {Engenheiros do Hawaii, Dom Quixote}.