26 de julho de 2013

Mas, eu.. Mas...

"Digory fechou a boca e apertou os lábios. Seu mal-estar aumentava. Tinha esperança de que, acontecesse o que acontecesse, não choramingaria, nem faria nada ridículo.
- Filho de Adão, está disposto a desfazer o mal que fez ao meu manso país de Nárnia no dia de seu próprio nascimento?
- Só não sei o que posso fazer. Como o senhor sabe, a rainha fugiu e...
- Perguntei se está disposto? - disse o Leão.
- Estou.
Passara-lhe um segundo pela cabeça a tentação boba de responder: "Estou disposto, se o senhor prometer-me ajudar minha mãe". Mas percebeu  a tempo que o Leão não era criatura com a qual se podia fazer barganhas. Porém, quando disse "Estou", pensou na mãe, nas grandes esperanças que tivera, e em como agora elas estavam para morrer. Sentiu um nó na garganta e lágrimas nos olhos. Deixou escapar, no entanto:
- Mas, por favor, por favor...o senhor não podia me dar qualquer coisa que salvasse minha mãe?
Até aquele instante, só olhara para as patas do Leão; agora, com o desespero, olhou-o nos olhos. O que viu o surpreendeu mais do que qualquer outra coisa. Pois a face castanha estava inclinada perto do seu próprio rosto e (maravilha das maravilhas) grandes lágrimas brilhavam nos olhos do Leão. Eram lágrimas tão grandes e tão brilhantes, comparadas ás de Digory, que por um instante sentiu que o Leão sofria por sua mãe mais do que ele próprio.
- Meu filho, meu filho, eu sei. A dor é grande. Só você e eu nesta terra sabemos disso.(...)"
LEWIS, C.S. AS CRÔNICAS DE NÁRNIA: O Sobrinho do Mago. cap. 12. Ed. Martins Fontes, SP: 2010.

Eu leio e choro! Impossível, para mim, evitar o choro! Realmente, a leitura de "As Crônicas de Nárnia" toca muito a minha alma. São palavras simples, um modo delicado de falar sobre o que é realmente importante na vida cristã - na fé.

Quando li esse texto, logo lembrei de Marta e Maria chorando a morte do seu irmão, Lázaro. Desespero, talvez seja a palavra para aquilo que estavam sentindo. Esperavam que Jesus estivesse lá para evitar a morte do irmão. Esperaram por isso. Chamaram. E, a resposta para sua dor veio quatro dias depois. Lázaro já estava morto a quatro dias quando Ele foi ao encontro das irmãs. Ele não estava indiferente ao sofrimento delas (João 11:35). Ele sentiu o sofrimento de Marta e Maria e chorou com elas.

Quando Digory estava com Aslan, ele também tinha uma preocupação em mente: sua mãe doente. Ele tinha que reparar o mal que havia causado em Nárnia mas... sua mãe precisava de ajuda também. E, quando o Leão o questiona sobre sua disposição em reparar seu erro, Digory titubeia pois não sabe como um menino pode resolver a situação que ele mesmo causou. Aslan não estava preocupado em "como" mas em ouvir "sim" ou "não".  Digory aceitou mas... ainda havia sua mãe. Ele sacou que não poderia pechinchar com o Leão, então, restava aceitar. Mas...
O Leão sabia. Ele conhecia o problema de Digory. Muito mais que isso: ele sentia o sofrimento do menino.

Cristo é assim: ele não nos pergunta "como" faremos, mas se estamos dispostos a fazer:  ir e pregar o evangelho a toda criatura. E, nesse ínterim, ele não menospreza nossos problemas ou sofrimentos. Ele sabe o que nos aflige e não negligencia nossa dor. Ele não nos pede para esquecer, mas quer saber de uma coisa: "Crês tu?".

9 de junho de 2013

Boas ideias... possíveis tragédias?

E disse Sarai a Abrão: Eis que o SENHOR me tem impedido de dar à luz; toma, pois, a minha serva; porventura terei filhos dela. E ouviu Abrão a voz de Sarai.


Eu sou uma pessoa ansiosa. Gostaria de negar essa afirmativa, porém, para os poucos leitores deste blog, é impossível mentir.

Eu gostaria de dizer que sou apenas ansiosa, mas, além de ansiosa, tenho boas ideias que podem justificar minha ansiedade e falta de paciência em esperar. Exatamente como Sarai o fez. 

Não condeno Sarai, sou simpatizante com sua intensão de fazer algo em relação a outro. Você julgaria Sarai? Eu, não! Eu senti as necessidades dela, os anseios que a situação lhe dava. Não estou justificando Sarai ou a eximindo da "bagunça" que provocou. Estou tentando mostrar uma Sarai humana. 

Ok, senhor centrado, talvez eu precise explicar como eu e Sarai funcionamos. 
Não é falta de fé, é excesso de boas ideias. 

Eu espero. Porém, eu não esqueço o que estou esperando. E, enquanto espero, eu penso. Vejo a situação por ângulos plausíveis, por vias concebíveis à minha situação. Quem está envolvido? Quem será envolvido? Será "ilegal" perante a lei dos homens? 

Não condene Sarai! Ela olhou em volta e viu sua sociedade, seu status, sua própria condição. Tudo o que fez lhe foi possível e legal. 
Ela era avançada em idade = não poderia gerar filhos.
Ela era pautada por um costume = oferecer uma serva ao seu marido para gerar filhos para ele.
Ela enxergou uma oportunidade.

Ela foi humana! 

Diga-me, você nunca, como diz o ditado, trocou os pés pelas mãos? Diga-me se nunca se sentiu frustrado (a) por perceber, pouco tempo depois, que todo o seu cálculo, medida e circunstância foi em vão.

Se eu aprovo o que Sarai fez? Não! Mas eu conheço a história. Eu reli incontáveis vezes o triste fim deste episódio. Eu fui ensinada a esperar e a confiar. Eu vi, na maioria das vezes, Sarai ser condenada por pessoas que erraram como ela e usaram a mesma "fórmula" que ela usou.

Mas você já se colocou no lugar dela? Você viveu a vida dela e se viu "sem saída"? Ela fez o que fez baseada em um costume que lhe dava respaldo. Condene-a! Diga que lhe faltou fé e deixe-me perguntar-lhe: a sua nunca falhou? Você nunca tropeçou? Seu erro foi "menor"? Seu pecado foi "brando"?